reparei, por acaso reparei. arruinada, completamente arruinada era como tinha sido abandonada. aliás, teria sido deixada ainda em ordem, mas rapidamente os parasitas se teriam servido dela. ainda eram vislumbráveis alguns azulejos, que adivinhei lindíssimos na altura em questão, talvez a dois terços do século anterior a este.
e das janelas se pressupunham quartos, salas, cozinhas, arrecadações. por momentos um flash fugaz de ideias efémeras se ia tornando decifrável: das paredes se recolhia o som, das telhas as formas e das janelas sem vidros ou qualquer cortina se encadeavam os acontecimentos de forma racional.
era do que a imaginação precisava. imagináveis eram os almoços de domingo com toda a pompa na sala grande; imagináveis eram os apartes entre senhor e senhora na suite maior; imagináveis eram os partos manhosos no quarto refundido; imaginável era a infância com cheiro a cera, recheada de flores campestres e bolos caseiros; imagináveis eram os Natais, Páscoas e demais feriados religiosos, de uma típica família de bom tom; imagináveis eram os percursos: dos filhos, que se tornavam homens com as criadas mais novas, na arrecadação, e seriam doutores. das filhas, que se entretinham com o chauffeur no galinheiro e seriam obrigadas a casar precocemente; imagináveis eram as vidas, em ciclo vicioso.
e em ciclo vicioso resultaram na ruína, uma belíssima recordação, um motivo de restauro. their bad, you know.
No comments:
Post a Comment