E dentro da sala de espera ria-se; ia de um lado para o outro e, mal não via o anfitrião, gritava baixinho: "paijinho, paijinho", entre pequenas risadas. Depois via água e queria água, via o seio nu do mesmo corpo que a pariu e, ainda habituada às lides homónimas, queria o seio, queria leitinho. Mas era o próximo, o mais novo, o mais pequeno - aquele que 2 meses teria ou não, sendo que, se não tivesse, apenas menos poderia ter - era esse quem se alimentava do líquido branco sujo.
E eram os quatro deles, deles mesmos.
E vem o excelentíssimo senhor dizer que, por isto ou por aquilo, somos os piores, que estamos a acabar com a Terra como a conhecemos, pelo menos. Somos o exemplo de obscenidade e falta de educação. Somos mundanos e inconscientes, burros e confusos. Somos adolescentes do século XXI, do yo, do tásse bem bacano, do legalize e por aí fora.
E eram os quatro deles, deles mesmos.
E vem o excelentíssimo senhor dizer que, por isto ou por aquilo, somos os piores, que estamos a acabar com a Terra como a conhecemos, pelo menos. Somos o exemplo de obscenidade e falta de educação. Somos mundanos e inconscientes, burros e confusos. Somos adolescentes do século XXI, do yo, do tásse bem bacano, do legalize e por aí fora.
Não, não somos! Somos do uma semana aqui uma semana ali, somos dos órfãos, somos do o meu meio-irmão, somos do divórcio litigioso, somos do fui despedida, do fui assaltada e do fui violada. Somos filhos dos filhos da droga, somos filhos dos apitos dourados, somos filhos dos sacos azuis, dos suicídios e dos emigrantes, dos retornados e do stress pós-traumático. Por conseguinte, ainda somos filhos dos furacões, da fome, dos tremores de terra e do buraco na camada do ozono. Filhos do consumismo, filhos dos anúncios de televisão e da manipulação. Filhos de uma sociedade que engravidou com 15 anos e não nos consegue educar.
E nisto gritamos e erramos e somos maus alunos e bons e não temos emprego e temos e não temos novamente; e nisto vamos e vimos e vimo-nos e divertimo-nos e caímos e levantamo-nos e uns caem e não se levantam e uns ajudam, outros não, e rimos e choramos e dançamos; e nisto mentimos, a nós próprios, e pensamos e amamos, a pessoa errada que é a certa, e comemos e não comemos e queremos ser magros, ser azuis, verdes, roxos, pretos, brancos, e queremos erudição, e estudamos os clássicos, mas somos dinâmicos e toda gente deseja e esbanja o modernismo; e nisto votamos e abstemos e trabalhamos e fazemos greve e oferecemos CDs e sacamos discografias e viajamos (vamos a Paris elogiar a Mona Lisa), e desprezamos (os artistas portugueses que inauguram exposições numa qualquer ruela); e nisto somos maus, somos bons, somos lentos e rápidos, espertos e burros, burros; nisto somos um problema, um problema de expressão, somos abstractos e maluquinhos da cabeça; nisto somos humanos e agressivos, somos porcos e maus; nisto somos robots, guardanapos; nisto não merecemos pérolas.
E nisto gritamos e erramos e somos maus alunos e bons e não temos emprego e temos e não temos novamente; e nisto vamos e vimos e vimo-nos e divertimo-nos e caímos e levantamo-nos e uns caem e não se levantam e uns ajudam, outros não, e rimos e choramos e dançamos; e nisto mentimos, a nós próprios, e pensamos e amamos, a pessoa errada que é a certa, e comemos e não comemos e queremos ser magros, ser azuis, verdes, roxos, pretos, brancos, e queremos erudição, e estudamos os clássicos, mas somos dinâmicos e toda gente deseja e esbanja o modernismo; e nisto votamos e abstemos e trabalhamos e fazemos greve e oferecemos CDs e sacamos discografias e viajamos (vamos a Paris elogiar a Mona Lisa), e desprezamos (os artistas portugueses que inauguram exposições numa qualquer ruela); e nisto somos maus, somos bons, somos lentos e rápidos, espertos e burros, burros; nisto somos um problema, um problema de expressão, somos abstractos e maluquinhos da cabeça; nisto somos humanos e agressivos, somos porcos e maus; nisto somos robots, guardanapos; nisto não merecemos pérolas.
Nisto eu não resulto; eu adoro o antigo, o barroco; eu detesto modernistas obsessivos.
Em resumo, somos filhos do século XX e sinceramente, ainda mal.
O teu banner está fenomenal, e o blog tambem.
ReplyDeleteObrigado por seguires.
Está fantástico Filipa, adorei! :)
ReplyDeleteMuito bom!
ReplyDeleteNenhuma geração é melhor que outra e somos todos filhos de uma grande merda que nunca ficou acabada e os nossos filhos vão ser filhos de uma grande merda que nunca vai ficar acabada.
Fazes mal por não gostares do modernismo :f